O que há dentro de nós? Uma chama que nos impulsiona a avançamos em meio aos desafios do tempo presente, ou uma apatia que nos condiciona a permanecemos dependentes das condições momentâneas?
Quando as escrituras falam sobre uma das evidências dos últimos dias, traz a expressão que o “amor de muitos se esfriaria na medida em que a maldade se multiplicaria” (Mt 24.12). O amor psíquico é frágil, frio, indolente e inerte, ou seja, é incapaz de agir por ser insensível, não sofre por ser apático e não demonstrar interesse pelo outro.
Paulo ainda nos ensina que não devemos “apagar o fulgor do Espírito” (1Ts 5.19), ou seja, jamais devemos suprimir ou apagar o fogo do Espírito em nosso interior. Mas como isto acontece, e como podemos nos prevenir disto?
O PARADIGMA DE JOÃO, O BATISTA
Deus separou João antes de seu nascimento, e por isso, desde o anúncio de seu nascimento muitos paradigmas foram quebrados. De linhagem sacerdotal (Lc 1.8), seu pai Zacarias (Deus se lembra) era descendente de Abias (seu pai é Deus), responsável pela oitava ordem de serviço de culto no templo nos dias de Davi (1Cr 24.10). Segundo F.F.Bruce, houve uma convergência divina para que na época certa Zacarias fosse escolhido para apresentar incenso, visto que “o privilégio de oferecer incenso era concedido ao sacerdote apenas uma vez na vida, isso era designado por sorteio“.
Este mesmo autor cita que era prática comum nesta ocasião se “orar pela consolação de Israel“, ou seja, pela vinda do próprio Messias. É importante destacar que o número oito nas escrituras sempre está apontando para um novo começo, uma nova criação, também carregando o sentido da possibilidade de uma pessoa ultrapassar os limites que foram estabelecidos na terra.
Na fidelidade ao ordinário das responsabilidades sacerdotais, um homem encontrou-se com a profecia que estava em sua estação de cumprimento.
É incrível perceber que João (Deus é um doador Gracioso) o Batista (aquele que batiza) foi um homem que veio a existência para quebrar paradigmas, sendo aquele que trouxe uma nova dinâmica na vida religiosa de Israel. Nascido de uma mulher estéril, gerado em um ambiente de devoção sincera, era descendente de sacerdote mas não serviu no templo e não usava as vestes sacerdotais, mas antes, foi ao deserto ao encontro da palavra que estava sobe sua vida. Não foi nomeado por seu pai, mas seu nome foi dado pelo anjo Gabriel que visitou Zacarias. Neste encontro, Zacarias, ao ouvir as boas novas condicionou o cumprimento da palavra aos fatores circunstanciais de sua vida.
Quando a incredulidade foi encontrada no seu coração ele perdeu a voz, ou seja, a capacidade de proclamar o que Deus estava realizando em seus dias.
O SENSO DE PREPARAÇÃO NA OBRA DO ESPÍRITO
“Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João. E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento, porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe. E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus, e irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos e os rebeldes, à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto”. – Lc 1.13-17
No tempo adequado, aquele que era uma profecia se tornou um homem que se tornou a testemunha do cumprimento da Profecia (Ml 4). A expressão κατασκευαζω (kataskeuazo) traz o sentido de equipar, adornar, preparar, tornar pronto para uma pessoa ou coisa. Esta perspectiva de preparação está presente na vida de João Batista porque faz parte do desenvolvimento do plano de Deus na história (Is 40.3-5; Is 62.10-12).
Em dias onde homens tentam construir coisas para Deus, o Espírito continua atuando para preparar pessoas para Deus, que irão preparar o caminho para a vinda do Filho no poder do Espírito.
Cristo afirma que João era como uma candeia (Jo 5.39-47), segundo James Strong “uma candeia é semelhante a um olho, que mostra ao corpo qual o caminho; é possível fazer uma analogia entre a candeia e as profecias do AT, visto que elas proporcionam pelo menos algum conhecimento relativo à volta gloriosa de Jesus do céu“. Portanto, João, para que pudesse ser aquele que preparou o caminho, precisava conter em si um fogo que o consumia para que pudesse iluminar, ou seja, tornar claro e manifesto o que Deus estava realizando.
A mensagem de João o Batista consistia em comunicar o arrependimento. Foi a palavra proclamada no deserto que mobilizou as pessoas. E neste ponto de convergência do Rio Jordão, muitos foram imergidos na realidade da mensagem.
OS DESAFIOS DA IGREJA NA PÓS-MODERNIDADE
Para abraçar algo novo a partir de nova realidade espiritual é preciso estar disposto a experimentar um processo de transição. João precisou transicionar o funcionamento sacerdotal para um novo ambiente, ao mesmo tempo resgatar a essência do funcionamento profético que estava inativo por aproximadamente 400 anos.
Ser um pioneiro ou um precursor é perceber que aquilo que funciona no presente pode ao mesmo tempo ser obsoleto no futuro. É ter a capacidade de ver o que precisa ser construído, mesmo que ainda não seja percebido pelas pessoas. É se mover a partir do que foi anunciado, está sendo gerado e em breve será manifestado.
Isto vai exigir o abandono de uma mentalidade individualista e imediatista, que envolve o ampliar de uma mentalidade corporativa, que permite que outras pessoas também se tornem participantes daquilo que está sendo construído.
Também é necessário a compreensão de que fatores impeditivos precisam ser removidos. O que são fatores impeditivos? São aspectos que comprometem o desenvolvimento, sejam fatores do passado ou do presente, que envolvem os paradigmas base e as maneiras de operação que são inadequadas para o tempo que está relacionado ao futuro. Isto nos possibilita, por meio do que está sendo erguido, ou seja, desta nova mentalidade, o desenvolvimento de construções que apontam para um novo modelo, um referencial de convergência que aponta para uma nova maneira de construção.
Quais são os fatores impeditivos em nossas vidas que podem comprometer tudo o que o Senhor deseja desenvolver em nós?
Estamos nos aproximando da características dos que estão em processo de esfriamento do amor, ou estamos a cada dia mais sendo imergidos na realidade do amor pactual que mantém nosso coração aquecido?
Estamos passivos diante de todo o cenário ou estamos perseverando em amor no desenvolvimento da vocação com a qual fomos designados pelo Senhor?