O verbo edificar vem da expressão grega οικοδομεω oikodomeo, que significa construir uma casa, edificar a partir da fundação, erigir uma construção, fundar, estabelecer. Hoje iniciaremos uma série de ministrações que tratam sobre a edificação da Igreja de Cristo. Nosso objetivo é compreender nossa missão como Mob, para que mediante a realidade do Reino de Deus, nossa vida possa ser afetada pela realidade da Trindade.
A afirmação de Pedro, quando inspirado pelo Espírito afirma que “Jesus era o Cristo, O Filho do Deus Vivo”, é reconhecidamente uma das mais importantes da história. Porém, entendermos o contexto em que esta declaração é pronunciada ,é importante para o momento que estamos vivendo. Da mesma forma que o termo ekklesia é ressignificado por Cristo, acreditamos que precisamos ressignificar o conceito que temos sobre a Igreja.
O termo Igreja vem da expressão grega Ekklesia, que significa a “reunião de cidadãos chamados para fora de seus lares para algum lugar público“, também pode ser traduzida por “assembleia do povo reunida em algum lugar público com o fim de deliberar“. Em sua origem era a principal assembleia da democracia ateniense. Esta assembleia atuava nas políticas externas, além de legislar sobre as questões da cidade e fiscalizar as pessoas em funções públicas.
O CONTEXTO DE MATEUS 16
Após a segunda multiplicação de pães (Mt 15.29-39) Jesus e seus discípulos se deslocaram para região de Magdala (torre), situada a 5km ao norte de Tiberíades, na borda do Mar da Galiléia. Era a região de residência de Maria Madalena. O nome Magdala deriva da expressão hebraica מגדלה migdalah, que significa uma torre, uma plataforma elevada, um púlpito.
Neste lugar os fariseus e os saduceus tentam colocar Jesus a prova, pedindo um sinal do céu. Cristo colocou em xeque a perspectiva sobre a qual eles fazem uma leitura dos acontecimentos. A falta de perspectiva profética os impedia de discernir os tempos. Por isso, Cristo afirma que o único sinal que teriam seria o intervalo entre a sua morte e a sua ressurreição (Mt 12.38-42), e que os ninivitas que se arrependeram nos dias de Jonas, os condenariam, porque eles eram uma geração má e adultera.
O FERMENTO DOS FARISEUS E DOS SADUCEUS
Os saduceus (os justos) constituíam um partido religioso/politico judaico. Historiadores afirmam que surgiram nos dias de Zadoque, descendente de Zorobabel. Nos dias de Cristo, todos os sumo-sacerdotes eram saduceus. Eram nobres, pertencentes a aristocracia judaica intimamente ligada ao sacerdócio. Os saduceus negavam a ressurreição do corpo, a imortalidade da alma, a existência de espíritos e anjos. Reconheciam somente a Lei Escrita como autoridade divina, em detrimento a Lei Oral e ensinavam sobre o Livre Arbítrio. O fermento dos saduceus consistia na orgulho pela retórica e intelectualidade.
Já a seita dos fariseus surgiu depois do Exílio da Babilônia, e formavam uma importante escola judaica de caráter religioso. Buckland afirma que começou a funcionar aproximadamente 150 anos antes do nascimento de Cristo, mais ou menos, quando o espírito da profecia já tinha deixado de existir. A literatura tálmudica é uma das obras dos fariseus. Se denominavam “os separados”, porque aspiravam a santidade por meio do cumprimento exato dos deveres religiosos. Se orgulhavam de suas boas obras, e procuravam reconhecimento por sua piedade religiosa. Tinham reputação e poder entre o povo. Acreditavam que as esmolas, as ofertas a Deus e as confissões eram suficientes para redenção. Consideravam ainda que os desejos e os pensamentos não eram pecado, apenas se fossem praticados. Defendiam que a tradição oral tinha o mesmo nível de autoridade da lei escrita. Diferente dos saduceus, criam na ressurreição do corpo. O fermento dos fariseus consistia na religiosidade hipócrita (Lc 12.1-3)
O Sinédrio (conselho) era o supremo tribunal de Jerusalém presidido pelo Sumo-Sacerdote. Era composto por 71 membros, formado pelos saduceus, fariseus e escribas. Suas atribuições envolviam as disposições da acerca da religião prática, a gestão do templo e as investigações referentes a ensinos estranhos à tradição. O conselho também era responsável pela relação com os Estados estrangeiros.
A CONFISSÃO DE PEDRO
Próximo as nascentes do Jordão, nos é revelado a natureza de Cristo como o fundamento sobre o qual, mediante a operação do Espírito, a Igreja está edificada. Nesta ocasião, Cristo ainda reafirma a identidade de Pedro como a pedra de início da Ekklesia como uma realidade espiritual. Nesta afirmação entendemos que o poder do Reino opera na terra por intermédio da Igreja de Cristo, pois as “portas do inferno não podem prevalecer contra ela”.
Enquanto a Igreja Universal é invisível, inviolável e constituída pelos remidos em Cristo, a Igreja local deve ser a expressão da Igreja Universal em uma localidade.
Os cristão não são chamados para anunciar a Igreja, mas o Reino de Deus. Por isso, a plantação de uma Igreja começa com a pregação do Evangelho do Reino, pois é ele que gera a Igreja. Portanto, a Igreja é a testemunha do Reino de Deus no contexto da sociedade onde ela está inserida. Não é a Igreja que edifica o Reino, mas ela é edificada pelo Senhor Do Reino e sobre o fundamento que é o próprio Cristo (1Co 3.11; Ef 2.19-22; 1Pe 2.5-7).
Segundo Howard Snyder, “a Igreja em cada época enfrenta a tarefa de formar as estruturas que forem mais compatíveis com sua natureza e missão dentro da sua cultura específica (…) esforçando-se para manter sua integridade, enquanto é atacada pelos ácidos corrosivos do paganismo e legalismo judaico“.
O Reino é a esfera de Domínio de Deus, enquanto a Igreja é o corpo de Cristo formado por pessoas, ou seja, a comunidade do povo do Reino. Dean Sherman nos faz uma pergunta intrigante “será que todas as pessoas nascidas de novo, estão atuando como Igreja quando estão em seu local de trabalho?“. Como a Igreja deve se atuante em todas as esferas da sociedade, é importante que tenhamos uma compreensão clara sobre a missão de Cristo.
(…) a entrada no Reino significa participação na Igreja; mas entrar na Igreja não é necessariamente sinônimo de entrar no Reino (…) O Reino cria a Igreja, opera por intermédio dela e é proclamado no mundo por ela. Não pode haver Reino sem que haja também uma igreja – formada por aqueles que reconhecem a Soberania de Deus – e não pode haver Igreja sem quem haja também o Reino de Deus” – George Ladd
A Igreja local é uma comunidade de cristãos regenerados que confessam Jesus como Senhor. Em obediência as Escrituras, eles se constituem sob uma liderança qualificada, reunem-se regularmente para a pregação e a adoração, observam os sacramentos bíblicos do batismo e da comunhão, são unificados pelo Espírito e disciplinados para a santidade e se espalham para cumprir o Grande Mandamento ou a Grande Comissão como missionários ao mundo – para a glória de Deus e a alegria deles.” – Mark Driscol e Gerry Breshears
Cristo ainda ressalta a autoridade que repousaria sobre a sua Igreja. É importante conectar a afirmação sobre as chaves do reinos do céus com o texto de Isaias 22.16-25, onde há uma troca de administração de Sebna (vigor/crescimento) por Eliaquim (levantado por Deus). O conceito das chaves de Davi também são encontrados no texto de Ap 3.7-13 que narra a carta enviada a Igreja em Filadélfia. As chaves pode ser intendidas na perspectiva “do Sim e do Amém” proclamado por Cristo e sua Igreja em resposta a vontade de Deus. (1Co 1.20).
A REPREENSÃO DE PEDRO E AS CONDIÇÕES PARA O POVO DO REINO
Enquanto na concepção dos saduceus o Reino era político, na concepção dos fariseus o Reino era a expressão do poder religioso. Quando Cristo aponta que o caminho para o estabelecimento da Igreja era a sua entrega voluntária para ser condenado pelo Sinédrio, Pedro se interpõe entre Cristo e a vontade do Pai. Ele estava dizendo “não” para o que Cristo já havia dito “sim” ao Pai. As cogitações do coração de Pedro se revelam demoníacas, porque estavam desconectadas da revelação do Espírito. Atualmente, muitas pessoas estão cheias de opiniões sobre a natureza, a missão e o modo de operação da Igreja, mas poucos realmente possuem uma revelação de Cristo e de Sua Igreja.
Pedro pelo Espírito confessou a divindade de Cristo, compreendeu a natureza e o fundamento da Igreja e a sua própria identidade. Porém, quando recorreu à sua perspectiva humana, corrompeu a natureza e o fundamento da Igreja, revelando as obras de Satanás.
Enquanto Pedro chamou Jesus a parte para repreende-lo, Cristo se dirigiu a todos os discípulos para exortá-los sobre o custo da via dolorosa da obediência e entrega voluntária. O mesmo martírio e humilhação que Cristo anunciou aos discípulos deveria ser enfrentado pelos mesmos. Se sujeitar ao mesmo processo os tornaria legítimos participantes do Reino de Deus, ou seja, do governo de Cristo sobre todos os reinos do mundo.
O PRENÚNCIO DA REALIDADE DA ETERNIDADE
Os saduceus e os fariseus arquitetavam sobre como neutralizar aquele que ameaçava o reino ideológico que estavam promovendo, quando Cristo escolheu três discípulos para testemunharem sua transfiguração, ou seja, a manifestação da sua gloriosa divindade como um prenúncio da sua ressurreição.
Enquanto reduzia a visão da transfiguração ao seu entendimento pessoal sobre o estabelecimento do Reino, Pedro juntamente com os demais discípulos, ouviram o testemunho do Pai a respeito do Filho em meio a revelação da Glória de Cristo. A manifestação da presença de Deus os levou a se prostrar em adoração e quando abriram os olhos viram somente a Cristo, pois Ele era o centro da vontade de Deus, e o fator convergente de toda a lei mosaica e do ensino dos profetas.
A CONFISSÃO DE PEDRO E A CONEXÃO COM PENTECOSTES
Enquanto em Mt 16 temos o anúncio da constituição da Igreja, no Livro de Atos no capítulo 2 nós encontramos o início da Igreja no cumprimento da profecia de Joel, que apontava para o reavivamento do espírito profético e da revelação (Jl 2.28-32). Além disto, os discípulos que constituam a comunidade do povo de Deus, foram empoderados com a capacidade de comunicar o Evangelho do Reino em múltiplas línguas para alcançarem as culturas plurais onde estavam inseridos, reafirmado assim, o caráter único da Igreja de Cristo, seu alcance universal e sua autoridade para constituir um povo entre todos os povos da terra.