A santificação ocorre através da relação do Deus Pai com seus filhos. É um processo que acontece na vida dos que creem. Porém, esta crença não se resume apenas à afirmação da existência de Deus, mas da nossa correspondência ao seu amor, por causa do testemunho do Espírito em nosso interior a respeito de nossa filiação.
É importante ressaltar, que a expressão santificação tem um duplo sentido nas Escrituras. Na ocasião do estabelecimento do serviço sacerdotal no deserto, por diversas vezes Deus se dirige aos hebreus dizendo: Fala a toda a comunidade dos israelitas: Sereis santos, porque eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo (Lv 19.2). Portanto, a santificação não é uma ação unilateral, mas ocorre a partir de uma relação de reciprocidade. Nela, o Deus Santo santifica seus filhos, para que estes santifiquem o Seu Nome entre os homens.
DEUS SANTIFICA SEUS FILHOS…
É Deus que provê condições para que seus filhos sejam santificados. Neste aspecto, é importante relembrar que a expressão santificar significa ser colocado a parte ou separar, consagrar, dedicar, apresentar como sagrado.
Na perspectiva da santificação como um processo em nossa vida, destaca-se que se inicia em nossa conversão, e se desenvolve em toda nossa trajetória de vida. Cristo afirma que os discípulos são santificados pela Palavra da Verdade, por causa da relação de Cristo com o Pai (Jo 17.17-19)
Este será um holocausto contínuo através de vossas gerações, à entrada da tenda da revelação, diante do SENHOR, onde vos encontrarei, para falar contigo. Virei aos israelitas ali, e a tenda será santificada pela minha glória. Santificarei a tenda da revelação e o altar. Também consagrarei Arão e seus filhos, para que me sirvam como sacerdotes. – Ex 29.42-44
Na ocasião do Êxodo, encontramos uma chave importante para compreendermos o processo da santificação. A instrução consiste no exercício do ministério ao Senhor através do sacerdócio. Por causa da natureza sacerdotal de homens que ministram diante do Senhor, a Presença de Deus habitaria entre Eles. Neste lugar, seriam encontrados por Ele e ouviriam as Suas Palavras. A glória de Deus os santificaria, como também, a estrutura e todos os instrumentos utilizados no exercício do sacerdócio perante o Senhor.
É neste ponto que os fariseus, que nutriam um falso sentimento a respeito de si mesmos, eram denunciados todas as vezes que Cristo se aproximava deles, pois as suas deficiências no campo da justiça e da santidade, ficavam expostas perante a santidade de Cristo (JONES, 1982). Enquanto os fariseus recorriam aos aspectos cerimoniais e morais da lei como fundamento da sua santidade, Cristo ressaltava que a santidade era um fruto da relação pessoal com o próprio Deus. Devemos constantemente nos lembrar de que o ato de se cumprir os mandamentos, não nos torna participantes da vida de Deus, mas a vida de Deus em nós, proporciona condições para andarmos segundo as diretrizes de seus mandamentos.
Além disto, aquele que é verdadeiramente santificado irradia certa influência pessoal, que permeia e penetra em qualquer grupo de pessoas, entre as quais tal pessoa porventura esteja (JONES, 1982). É justamente isto que Cristo estava afirmando, quando disse que Ele se santificava para que fôssemos santificados. Portanto, a santificação não se resume aos aspectos da vida do indivíduo, mas do corpo de Cristo como um todo, pois Cristo está trabalhando para apresentar a Igreja a si mesmo como gloriosa, sem mancha, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível (Ef 5.27), por isso “o marido tem de trabalhar ativa e intencionalmente para santificação de sua esposa” (BAUCHAM, 2015)
…PARA QUE SEUS FILHOS SANTIFIQUEM SEU NOME
Apontamos anteriormente, que a santificação possui um duplo sentido. No que envolve o homem, significa a ação de Deus em nos tornar santos como Ele é. Somos santificados na medida que permanecemos diante de sua Face, contemplando à sua Glória e obedecendo em amor às suas palavras. Mas quando se trata à respeito da pessoa de Deus, esta expressão significa ser reverenciado, ser honrado, apresentar-se como majestoso e sagrado.
Habitarei no meio dos israelitas e serei o seu Deus; e eles saberão que eu sou o SENHOR seu Deus, que os tirou da terra do Egito para habitar no meio deles. Eu sou o SENHOR seu Deus. – Ex 29.45-46
Mas o meu nome é grande entre as nações, do oriente ao ocidente; e em todo lugar oferecem ao meu nome incenso e uma oferta pura; porque o meu nome é grande entre as nações, diz o SENHOR dos Exércitos. – Ml 1.10
Na oração do Pai Nosso, Cristo nos apresenta a natureza da relação paterna entre Ele e o Pai, da qual todos os participantes da mesma natureza passam a desfrutar. Neste aspecto, a expressão “santificado seja o teu Nome” (Mt 6.9), também aponta para nossa responsabilidade como filhos.
A primeira, envolve a consciência que temos a respeito da majestade, grandeza e santidade de Deus. A segunda, o quanto honramos o nome de Deus através de nossa maneira de viver.
Em outras palavras, “o nome” significa tudo quanto está envolvido na pessoa de Deus, tudo quanto nos foi revelado a respeito de Deus. Significa Deus em todos os Seus atributos. Deus em tudo quanto Ele é em si mesmo, Deus em tudo quanto Ele tem realizado e continua realizando (JONES, 1982).
A glorificação do Nome de Deus deve ser o principal interesse e preocupação dos seus filhos (CARSON, 1946). Por isso na oração do Pai Nosso, Cristo manifesta seu anseio para que o Deus Santo, santifique seu Nome entre os homens. Além disso, reafirma o seu compromisso em corresponder a santidade de Deus, para santificar seu Nome na terra.
De certa forma, orar “santificado seja o teu nome” é orar “Faz-me Santo. Permite que eu te reverencie. Opera em mim e em outras pessoas para que reconheçamos sempre tua santidade gloriosa e insuperável”. Mas a petição como Jesus ensina se estrutura não tanto em relação ao que tem de acontecer conosco para a oração ser atendida, mas, sim, em relação ao próprio alvo. O alvo mais elevado não é nós sermos santificados, mas, sim, o nome de Deus ser santificado. Isso tira o ser humano do centro da cena, e dá esse lugar somente a Deus. O homem – mesmo o homem transformado – não é o centro do universo. A principal raison-d’être (razão da existência) do ser humano é de fato, como os teólogos disseram, glorificar a Deus e desfrutar eternamente de sua presença. Essa breve petição tem sozinha tanto contêudo para a meditação, tantas implicações sobre como devemos pensar sobre Deus, que é suficiente para nos pôr de joelhos (CARSON, 1946)
Que honra o Deus Pai concede aos seus filhos! Mas ao mesmo tempo, que responsabilidade temos, pois nosso grande desafio é nos rendermos para sermos guiados pelo Senhor, para que em nossas orações e em tudo o que envolve nossa vida, seu Nome seja Santificado na Terra como é no Céu (MURRAY, 2012).
CONCLUSÃO
Por fim, gostaria de propor uma ação prática para nos auxiliar na internalização do ensino, sobre a Santidade de Deus e a Honra do Seu Nome, através de todas as áreas de nossas vidas, pois tudo o que Deus criou é bom e é reivindicado por Jesus Cristo (WOLTERS, 2019).
A ação consiste em respondermos e estabelecermos ações práticas a partir da pergunta: “se esta área da minha vida também pertence a Cristo, qual a a maneira mais efetiva de trazer reforma e santificação a ela, para que o Nome de Deus seja honrado através de mim?”
Diante disso, nossa oração é para que como uma casa sacerdotal, possamos mutuamente nos encorajar a permanecermos no lugar da Presença, ministrando perante a sua Face, contemplando e sendo transformados pela sua Glória.
Que o Senhor nos abençoe, e que a nossa principal ocupação seja glorificar seu Nome entre os homens.
Vamos juntos!