Existem muitos conceitos a respeito da santidade. Biblicamente, a santidade está relacionada a natureza existencial de Deus. Ele é Amor, é Santo e Justo, por isso, podemos afirmar que a Santidade Divina está relacionada à beleza da perfeição gloriosa de Deus. Nele não há mudança nem sombra de variação (Tg 1.17). Ele não viola a sua Aliança e nem volta atrás em suas Palavras (Sl 89.35) e por isso seu trono subsiste eternamente (Lm 5.19).
Em nosso texto anterior Pai & Filhos, afirmamos que a santificação é o meio pelo qual desenvolvemos um estilo de vida, onde honramos ao Senhor adorando-o na beleza da sua Santidade (Sl 29.2). Além disto, é importante destacar que procurar viver em paz com todos e em santificação, é uma condição inegociável para que possamos ver o Senhor (Hb 12.24), e representá-lo diante dos homens.
Também farás uma lâmina de ouro puro, e nela gravarás como a gravura de um selo: SANTO AO SENHOR. Prenda-a com um cordão azul para que fique na frente da mitra. Ela estará sobre a testa de Arão; e Arão levará o pecado cometido contra as coisas santas que os israelitas houverem consagrado em todas as suas santas ofertas; e ficará sempre na sua testa, para que eles sejam aceitos diante do SENHOR. – Ex 28.36-38
O posicionamento desta lâmina na testa do sacerdote contém uma mensagem importante que amplia nosso entendimento sobre a natureza da santificação. O ouro nas Escrituras aponta para aquilo que é precioso, incorruptível, puro, perfeito e divino. A testa na cultura hebraica era chamada de fronte, ou seja, aquela que está localizada entre os olhos. A raiz מצח metsach (testa ou fronte) também significa de ser claro ou conspícuo.
A mentalidade sacerdotal nasce da perspectiva da representatividade da Santidade do Senhor. O memorial “Santidade ao Senhor” chamava a atenção porque estava visível a todos que olhassem para ele. Da mesma forma, os sacerdotes deveriam ver as pessoas a partir de uma perspectiva santa.
Os trajes dos sacerdotes de Israel possuíam peças que representavam exatamente as peças do Tabernáculo. Os detalhes das vestes refletiam o próprio Tabernáculo de Deus. Parecia que aquele sacerdote era a habitação de Deus entre os homens. Nem todos poderiam entrar no Lugar Santíssimo, mas somente o Sumo Sacerdote. E quando o sacerdote saía do Tabernáculo e ia aconselhar, orientar e legislar o povo, parecia que aquele homem levava consigo um pouco da glória de Deus que havia naquele lugar. – (GUIMARÃES, 2006)
Deus concedeu ao seu povo sacerdotal a responsabilidade de representar sua natureza na terra. A mitra era constituída também por um linho que se conectava com a lâmina de ouro por um cordão de azul. Enquanto o linho representava a justiça, o cordão azul simbolizava a revelação divina. Se sintetizarmos a simbologia desta mitra, encontramos o cerne da representatividade do sacerdócio no contexto do Reino Messiânico: um povo de natureza sacerdotal que ministra perante ao Senhor e ao próximo à favor de Deus, e desta maneira governa legislativamente a partir da realidade da Santidade do Nome do Senhor.
O Nome de Deus e a Sua Honra
Comentamos anteriormente, que a santidade está diretamente relacionada a honra ao Nome de Deus. Mas o ponto de tensão se encontra em nosso nível de entendimento sobre o significado do seu Nome. Pois se o coração humano é uma fábrica de ídolos, e cada ídolo é um deus, o que difere a pessoa que chamamos de Deus dos outros deuses?
Moisés estava cuidando do rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Midiã, e levou o rebanho para o lado oposto do deserto, chegando ao Horebe, o monte de Deus. E o anjo do SENHOR apareceu-lhe em uma chama de fogo numa sarça. Moisés olhou e viu que a sarça estava em chamas, mas não se consumia. Então disse: Vou me aproximar para ver essa coisa espantosa. Por que a sarça não se consome? E, vendo o SENHOR que ele se aproximava para ver, chamou-o do meio da sarça: Moisés, Moisés! E ele respondeu: Estou aqui. E Deus prosseguiu: Não te aproximes daqui. Tira as sandálias dos pés, pois o lugar em que estás é terra santa. E disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. E Moisés escondeu o rosto, pois teve medo de olhar para Deus. Ex 3.1-6
Nesta ocasião, Deus se apresentou como um Pai de múltiplas gerações, que não está limitado ao tempo ou ao indivíduo, mas que apesar de sua grandeza e majestade, interage no tempo com a humanidade.
Então Moisés disse a Deus: Quando eu for aos israelitas e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós, e eles me perguntarem: Qual é o nome dele? Que lhes direi? Deus disse a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Assim responderás aos israelitas: EU SOU me enviou a vós. E Deus disse ainda a Moisés: Assim dirás aos israelitas: O SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me enviou a vós. Este é o meu nome eternamente, e assim serei lembrado de geração em geração. (Ex 3.17-19)
Na continuidade do diálogo, vemos que Moisés buscava um nome que comunicasse aos hebreus o que o próprio Deus realizaria no meio deles. É como se a apresentação anterior fosse abrangente demais, para que os anciãos reconhecem que fora realmente o Eterno que o enviara. A dúvida de Moisés em saber como comunicar o que estava ouvindo, revelou à limitação da mente de Moisés a respeito da grandeza daquele que lhe falava.
Quando o Senhor se apresentou como o “Eu Sou o que Sou”, a expressão no hebraico arcaico significa “Eu me tornarei aquilo que tu queres que Eu me torne”. Ele é o suprimento de tudo aquilo que precisamos a cada momento. Ele supre nossas necessidades. E por que Deus não menciona o seu nome? Porque Ele não queria que Moisés o limitasse simplesmente por um nome, pois, se pensarmos bem, todo nome define e limita. Ele é o Todo Poderoso, o Criador dos céus e da terra (…) Não há como limitá-lo a um nome. Ele é tudo! Qualquer nome, em qualquer língua, não poderia expressar o que Deus é em toda a sua plenitude e sabedoria. Creio que Deus quis passar a Moisés o verdadeiro conceito do seu Nome. Assim, Moisés entenderia: se estou fraco, Deus se torna minha fortaleza; se estou em guerra, Ele é a minha vitória; se estou cansado, Ele é o meu shabat (meu descanso); se estou triste, Ele se torna minha alegria; se estou doente, Ele se torna minha saúde; e assim sucessivamente. Afinal, Deus é tudo e se torna tudo o que necessitamos (GUIMARÃES, 2006).
Quão majestoso é o nosso Deus! Quão profundos são os seus pensamentos, quão insondáveis são os seus juízos, quão inexcrutáveis são os seus caminhos! (Sl 92.5, Rm 11.33). Será que todas as vezes que ouvimos a respeito da fama do Nome de Deus, somos tomados por uma profunda reverência, clamando para que suas obras sejam manifestas as todas as nações (Hb 3.2)? Ou estamos entre aqueles que desonram seu Nome com nossas práticas iníquas (M 3.1-15).
A fama aponta para a reputação diante do outro, seja um amigo ou inimigo, por isso, é importante ressaltar que a fama do Nome de Deus no mundo, depende da vida e dos atos dos Seus emissários e daqueles associados a Ele. Deus não é afetado pelos nossos atos, pois Ele é imutável, porém, para o bem ou para o mal, as pessoas tiram conclusões a respeito da religião e do Criador a partir de suas impressões sobre quem vive e fala em Seu nome (BUNIM, 1964).
A Santidade dos Sacerdotes
A santificação envolve o desenvolvimento do homem espiritual. Este processo acontece mediante um ponto de partida – o novo nascimento; e culmina com a maturidade plena – glorificação do nosso corpo. A efetividade da jornada, consiste em deixarmos as coisas de meninos para abraçarmos a responsabilidade de filhos maduros (Jo 1.12; Rm 8.32).
Na medida em que os nascidos de novo vivem a partir da regência cultural do deus deste século, não se desenvolvem, e por isso, constantemente precisam de um alimento diluído chamado leite, porque ainda são crianças sem discernimento espiritual, pois não foram experimentados na prática da Palavra acerca da justiça (Hb 5.11-14). Aquele que é um bebê na experiência com Cristo, ainda que tenha nascido da água e do Espírito, é um crente carnal, porque não trilha a jornada de desenvolvimento da sua salvação, vivendo segundo os padrões humanos, desprezando a relação transformadora promovida pela Presença de Deus (1Co 3.1-15).
Este tipo de gente não tem inteligência espiritual, mas nutre uma opinião sobre tudo. Fala do que não sabe, pois não ouve e não vê, pois está separado do lugar onde as ovelhas escutam a voz do Bom Pastor e o seguem. Escolher ouvir a voz do ego e percorrer caminhos enganosos nos leva a atribuir a Deus, algo que Ele jamais cogitou nos falar. Enquanto o homem espiritual vive para a glória de Deus, o carnal vive desonrando seu Nome ao tomar o Nome de Deus em vão (Ex 20.7).
No Antigo Testamento, a Santificação era manifestada através das leis cerimoniais (envolvia a ordem do culto), as leis morais (lei para a humanidade à respeito do valor da vida) e leis éticas (coisas práticas do cotidiano nas relações com o próximo). As leis cerimoniais foram concretizadas plenamente na Cruz de Cristo, porém as leis morais e éticas precisam ser redimensionadas em nossa vida, pois Deus não está preocupado com o legalismo, mas com o princípio da Lei do Senhor, pois esta é perfeita e restaura a alma (Sl 19.7).
Santidade ao Senhor tinha uma dupla lembrança (…) tanto para o sacerdote quanto para o povo. Então sobre o sacerdote recaía a responsabilidade de anunciar a santidade do Senhor ao povo e levar aquilo que o povo tinha de expressão de santidade, as suas ofertas, ao Senhor. E o mais interessante disso é que o sacerdote, como representante do Senhor, quando saía do Tabernáculo dirigindo-se ao povo, era o reflexo exato de “Jesus Cristo” que deixou a habitação do Pai e veio a nós, tabernaculando em nosso meio e trazendo a Santidade ao Senhor (GUIMARÃES, 2006)
No Novo Testamento, o chamado para a santificação envolve continuamente nos apresentarmos como sacerdotes diante de Deus, oferecendo a Ele sacrifícios espirituais de lábios que confessam o seu Nome, acessando a realidade do Reino de Deus pelo Novo e Vivo Caminho. Estes se apresentam diante Dele, com um coração sincero, pois sabem que a Verdade é a garantia da promessa feita sob juramento. Nesta jornada acessam a Vida de Deus, que torna seus sacrifícios espirituais santos e agradáveis a Ele.
Portanto, a santificação nesta perspectiva de integralidade do ser e da vida, envolve correspondermos por meio da Obra de Cristo, através da Pessoa do Espírito, a Lei colocada em nosso coração e escrita em nossa mente, sendo aperfeiçoados de tal maneira que sejamos um com Cristo (Jo 17), para que através das coisas ordinárias da vida, vivamos agradavelmente para Glória de Deus Pai, cumprindo desta forma, o desígnio de Deus sobre a nossa geração (Rm 10.1-39)
Aplicação Prática
Qual tem sido a impressão que temos transmitido a respeito do Nome de Deus, as pessoas a nossa volta a partir de nossas práticas pessoais?
Com qual tipo de mentalidade tenho servido a Deus neste tempo?
Que tipo de culto, nós como comunidade de fé, estamos oferecendo a Deus nesta cidade?
Quando olho para o outro, vejo-o a partir da Santidade do Senhor ou através da Minha Carnalidade?
Estamos as portas da Festa de Tabernáculos. Em que você tem ocupado sua mente neste tempo? Seu foco está na colheita que anseia para si, ou na expressão coletiva da Santidade ao Senhor que irá revelar a face de Cristo ao mundo em nosso tempo?
Referências Bibliográficas
BRUCE, FF. Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento. São Paulo, SP: Editora Vida, 2009
BUCKLAND, Rev. A.R. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo, SP. Editora Vida, 1981
BUNIM, Irving M. A Ética do Sinai: Ensinamentos dos Sábios do Talmud. São Paulo, Sêfer, 1964
GUIMARÃES, Marcelo Miranda. A Torá – Devarim, Palavras, Deuteronômio. Belo Horizonte, AMES, 2008.
GUIMARÃES, Marcelo Miranda. A Torá – Shemôt, Nomes, Êxodo. Belo Horizonte, AMES, 2006.
KATZ, Arts. Fundamentos Apostólicos. São Paulo, SP: Editora Impacto, 2020.
MURRAY, Andrew. O Espírito de Cristo: Entendendo a ação do Espírito de Deus na vida do cristão e da Igreja. Curitiba, PR: Publicações Pão Diário, 2013.