INTRODUÇÃO
Reunidos com amigos pastores da região de Curitiba, fomos conduzidos a olhar para o momento da última ceia de Jesus com objetivo de tirar profundas lições sobre nossa filosofia de discipulado e pastoreio. Inspirado nas palavras do amigo Jozadak Lima, presidente da Aliança Brasileira de Pastoreio de Pastores e missionário da Sepal, quero compartilhar sobre alguns princípios inegociáveis que definem como queremos trabalhar em nossa plataforma de discipulado.
Humildade para servir, guardar e proteger o outro…
Todo o ambiente é preparado pelo próprio Jesus lavando os pés dos seus discípulos, ensinando sobre a importância de uma liderança humilde e servidora. Nesse contexto, Ele mesmo afirma estar dando exemplo de como eles deveriam servir uns aos outros. Sua postura revela seu objetivo. A postura de Jesus é sempre de humildade e mansidão e seu objetivo era guarda-los e protege-los a fim de que nenhum se perdesse (João 17:13). Se nossa postura é humilde servidora nosso objetivo tem a ver com o outro. Porém, se nossa postura é altiva e egoísta nosso objetivo tem a ver com ninguém mais do que nós mesmos.
Sua postura revela seu objetivo.
A postura humilde tem como objetivo o outro.
A postura altiva tem como objetivo você mesmo.
A inquietação espiritual por guardar o outro…
No momento da ceia o espírito de Jesus fica angustiado, agitado e inquieto. A pergunta é, por quê? Por que seria traído ou por que percebeu que um dos seus discípulos estava em perigo? Aqui parece fazer sentido o que significa “guarda-los em seu nome”. É a inquietação espiritual por ver um dos seus discípulos em perigo.
Os discípulos olhavam-se sem saber de quem estava falando. Ao mesmo tempo todos queriam se sentir a salvo do lado do mestre. Esse cenário exige reflexão sobre nossas posturas. A primeira questão é: Como é possível andarmos tanto tempo e tão perto de Jesus sem saber que o outro tão próximo está em perigo? Como podemos seguir Jesus juntos por tanto tempo sem perceber que a pessoa ao lado está exposta ao risco, vulnerável ao erro, sentindo-se mal? Será que estamos tão ocupados com estarmos a salvo que não nos sentimos responsáveis pelo outro em perigo? Será que amamos Jesus ao ponto de guardarmos espiritualmente o outro? Será que temos essa inquietação espiritual?
Será que estamos tão ocupados com estarmos a salvo
que não nos sentimos responsáveis pelo outro em perigo?
O compromisso por proteger a integridade do outro…
A impressão que tenho é que nossa interpretação dessa mesa não é Cristã. Pelo menos parece não ter a mesma perspectiva de Cristo. Parece que temos outro olhar. Porque até então, interpretamos a ação de Jesus de entregar o pão a Judas como resposta a pergunta de João sobre quem seria o traidor. Mas será mesmo que Cristo respondeu sua pergunta? Cristo respondia todas as perguntas dos seus discípulos?
Sua resposta era muitas vezes, uma nova pergunta, uma reflexão sobre as intenções da pergunta, uma nova lição a ser aprendida? Preste atenção no contexto. O que significa o anfitrião de uma mesa dar o primeiro pedaço de pão a alguém? Era um ato condenatório ou um ato de honra? Aqui parece fazer sentido o que Jesus quer dizer com “protege-los”. Jesus não condena Judas, mas honra-o a fim de proteger e preservar sua integridade como homem.
A pergunta perturbadora que trovejou dentro de nós foi: Por que temos tanta facilidade de expor, julgar e condenar publicamente o pecado do outro? Será que Jesus não estava tentando guardar e proteger Judas? Preste atenção! Judas não foi condenado publicamente, mas desde o momento que aquela mulher honra a Jesus com todo seu amor e devoção, o seu caráter vem sendo exposto.
Foi o amor extravagante, silenciosamente constrangedor da mulher por Jesus e o amor zeloso, incondicional e silencioso de Jesus procurando guardá-lo e protege-lo que fez Judas se sentir totalmente nu e exposto. Contudo, sentir-se exposto não significa estar excluído.
A questão é que Judas não soube ligar com sua exposição por não ter aprendido a primeira lição sobre humildade, não soube como lidar com os dilemas do seu próprio caráter e a medida que deixa Jesus e seus amigos, o grupo dos discípulos, perde iluminação e clareza. Satanás já está com ele conduzindo-o para a noite escura. O caminho que naquele momento lhe parece direito tem por fim sua morte.
Falta de percepção espiritual revela ausência de valor na relação com o outro
Observando o texto vemos que outro fator agravante desse cenário seríssimo é que nenhum dos que estavam a mesa percebeu o que estava acontecendo. Não perceberam a intenção de Jesus em guardar e proteger seu discípulo diante da intenção de Satanás de tirá-lo da mesa. O que isso significa?
Não temos inquietações espirituais por ninguém, nem procuramos proteger os que estão próximos, porque não temos discernimento espiritual, não percebemos como satanás usa de astúcia para enganar, manipular e induzir ao erro. Não percebemos a guerra pelos corações.
Mas por que temos tanta dificuldade em perceber essa movimentação espiritual na relação com o outro? Porque nossa relação com as pessoas são operacionais. Como Judas era tesoureiro do grupo, acharam que Cristo estava pedindo para comprar algo ou ordenando que desse algo aos pobres. O que isso pode significar? Que olhamos para as pessoas a partir da sua função, seu trabalho ou posição, significa que nossas relações estão baseadas na utilidade e não no significado.
Estamos tão focados nas programações, nas responsabilidades, em manter todas as coisas funcionando que não percebemos quando aqueles com quem caminhamos ombro a ombro estão sendo atacados. A triste verdade é que a falta de humildade, espirito inquieto e honra deixa-nos insensíveis ao outro e expostos ao perigo.
A falta de humildade, espírito inquieto e honra,
deixa-nos insensíveis ao outro e expostos ao perigo
Guardar e proteger implica estar atento as necessidades do outro…
A grande lição para todos nós, mais uma vez, é o amor. Jesus amou os que estavam com Ele até o fim. E para quem acha que seus problemas tinham acabado, justamente após falar sobre o como deveriam cumprir o mandamento de amar uns aos outros assim como Ele os amou, para serem conhecidos como discípulos, uma nova situação de conflito com Pedro acontece. Aqui encontramos algumas lições importantes sobre como devemos cuidar das pessoas que estamos discipulando para cumprir a grande comissão de Jesus.
Enquanto Jesus fala sobre sua ascensão, Pedro começa a perturbar-se e pergunta para onde vai. Aqui aprendemos que quem cuida não responde perguntas estúpidas, mas atende as necessidades importantes. Jesus não responde sua pergunta dizendo para onde vai, mas explica: “Para onde vou, não me podes seguir agora; mais tarde, porém, me seguirás”. Assim como fez com João na mesa da ceia, não fala o que querem saber, mas o que precisam aprender. Entender esse princípio já poupa muita energia no processo. O problema é que nem sempre as pessoas param de fazer perguntas. Então o que fazer?
Guardar e Proteger é dar liberdade para que se revele a verdade do outro…
Aprendemos que cuidar de pessoas é dar liberdade para que sejam elas mesmas, é criar um ambiente seguro para que revelem sua verdade, mesmo que aquilo que lhes parece verdade seja um monte de erros. Pedro tomado de paixão impetuosa diz: “Senhor, por que não posso seguir-te agora? Por ti darei a própria vida”. Segundo a narrativa de Mateus, Pedro chamando-o a parte diz: “Isso jamais te acontecerá”.
Aqui vemos mais uma vez Jesus guardando e protegendo seus discípulos. Segundo a narrativa de Lucas, satanás reclamou por peneirá-lo como Trigo e Jesus rogou por ele para que sua fé não desfalecesse. Somente quando os discípulos se sentem a vontade para serem de verdade poderão ser libertos para viver livres pelo conhecimento da verdade. Cristo não luta por sua verdade, porque sua verdade sempre vence.
Guardar e proteger é esperar pela resposta de arrependimento do outro…
Cuidar é ter paciência com o processo do outro. Lembre-se que quem cuida não acusa nem condena, mas conduz a pessoa ao processo pelo qual se percebe, e então caindo em si, reconhecendo o quanto estava sinceramente enganado, volta para o seu lugar. É importante que o arrependimento seja genuíno. Melhor do que apontar o erro é acompanhar o processo que revela o quanto se pode estar errado.
Toda mudança imposta dificilmente permanece, justamente por não ser fruto de arrependimento genuíno. Nada dá direito a ninguém de colocar-se como juiz sobre o outro, sejam dons espirituais, graduação ministerial, ou qualquer tipo de posição, posse ou poder. Quem ama cuida, guarda e protege.
Toda mudança imposta dificilmente permanece,
justamente por não ser fruto de arrependimento genuíno
Ao invés de acusa-lo por seu posicionamento equivocado e engano das suas cogitações satânicas, Jesus fala sobre como será o seu processo, o caminho que o levará ao encontro da resolução de todas as suas inquietações. Seria resistido em suas iniciativas e ouviria o galo cantar três vezes como sinal da sua derrota. Ao lutar para sustentar sua própria palavra “Isso jamais te acontecerá”, Pedro seria vencido pela Palavra que permanece para sempre.
Pedro, obstinado em sua posição, não percebeu que estava sendo exposto pelo processo até ouvir o galo cantar pela terceira vez. Segundo o relato de Lucas, nesse exato momento Jesus olhou para dentro dos olhos de Pedro, que imediatamente lembrou da sua palavra. Então saindo dali chorou amargamente. Não houve condenação. Apenas o olhar de amor que como uma espada afiada penetra o mais íntimo do ser, falando tudo sem dizer nada.
O olhar de amor como uma espada afiada
penetra o mais íntimo do ser,
falando tudo sem dizer nada
Conclusão…
Não apenas olhe para Jesus, mas perceba o seu olhar. Em outro momento Jesus olhando para as multidões se compadeceu por estarem cansadas e exaustas como ovelhas sem pastor. Estejamos atentos a todos os que estão próximos. Tenhamos esse espírito inquieto por todos que estiverem em perigo guardando-os em oração.
Aprendamos a proteger ao invés de expor com julgamento e condenação pessoal. Assumamos o compromisso de constranger com amor e honra para que nenhum ame mais as trevas do que a luz. Andemos como filhos da luz em toda bondade, justiça e verdade até que ninguém prefira esconder-se no escuro por causa das suas vergonhas, mas sejam atraídos ao processo de restauração pela exposição a luz. Exatamente como Pedro, que nu volta a olhar nos olhos de Jesus e dizer: “Tu sabes que te amo”.
Lembre-se que aprendemos a cuidar cuidando. Cuidando aprendemos a amar e olhar como Jesus, conduzindo pelo exemplo prático discípulos ao cumprimento da grande comissão. Seguimos juntos…
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Anderson Bomfim Pastor
Anderson Bomfim natural do Estado de São Paulo, casado com Andréa Bomfim, pais da Giovanna, Olívia e Pietra Bomfim. Fundadores da Missão Mobilização e Co-fundadores do CEIFAR-MG (Centro integrado de Formação e aperfeiçoamento para a Restauração). Desde 1999 tem procurado servir mobilizando e aperfeiçoando através de escolas modulares, conferencias e discipulado, cooperando junto com outras expressões ministeriais sobre a palavra de serem um, atuando em várias localidades com o mesmo propósito de Reino