Introdução
Estamos novamente em mais um ciclo da Páscoa, diante da mesma porta do Reino. A festa foi celebrada pela primeira vez durante a saída dos hebreus do Egito, e marca o mês dos primeiros frutos, que surgem a partir de um processo de renovação. Aponta ainda, para a transição de uma condição circunstancial para uma realidade posicional. Também engloba o momento em que devemos assumir as novas responsabilidades que são colocadas diante de nós.
Por isso, a Páscoa é um memorial e uma anunciação. Para os hebreus é um memorial da libertação do Egito, e a anunciação da Redenção Messiânica. Para os cristãos, é um memorial da obra salvífica de Cristo e uma anunciação da sua Vinda e da criação dos Novos Céus e Nova Terra.
Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é Amor. Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos. Nisto está o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se nós amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor. – 1Jo 4.7-12
Gostaria de compartilhar uma perspectiva da Páscoa dividida em sete atos: desde a aliança perfeita até a viva esperança dos novos céus e nova terra.
Primeiro Ato: A Relação Perfeita de Amor
Eu e o Pai somos um – Jo 10.30
Zacarias Severa afirma que “não há divisão ou conflito no Ser ou na natureza de Deus.” A relação de Cristo com o Pai não é de anulação ou limitação da pessoa do outro, mas apesar de serem pessoas distintas, são essencialmente indivisíveis e totalmente divinos. Há entre eles uma relação perfeita de unidade. Um amor indivisível por natureza. Uma relação pactual perfeita, onde o Pai glorifica o Filho, e o Filho glorifica o Pai.
Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que deste a fazer. E agora, glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse – Jo 17.4-5
Segundo Ato: Nossa Condição Humana
Em outras palavras, vocês estavam separados de Deus e mantinham uma atitude hostil para com ele por causa de suas ações ímpias. – Cl 1.21
A quebra de aliança trouxe separação, e esta resultou em hostilidade contra Deus. Para se proteger da condenação, Adão se escondeu da Presença de Deus e tornou-o culpado ao acusar Eva. A hostilidade contra Deus trouxe rivalidade para com o próximo.
Enquanto o amor une para complementar as relações, a rivalidade divide para evidenciar as diferenças. Ao invés de nos sentirmos completos pelo outro, nos sentimos intimados pela presença do outro. A rivalidade contra o próximo é a evidência de que “ainda não conhecemos a Deus, porque Deus é Amor“. Onde a rivalidade, há indiferença e ausência do amor. O amor une os diferentes, revela a grandeza do coração vulnerável, e expressa a beleza da entrega ao outro. A rivalidade separa os iguais, revela a pequenez do coração hostil, e a inexpressividade de quem se alimenta do seu ego.
Terceiro Ato: A Redenção pelo Sangue
Mas Deus mostra seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós ainda pecadores – Rm 5.8
A quebra da aliança nos colocou diante de uma exigência. Cristo com sua morte cumpriu esta exigência. Nas palavras de Darrin Patrick “Cristo morreu para Deus e pelos pecadores“. Na morte de um, dois são unidos em uma nova Aliança.
Cristo tornou-se nosso irmão na carne, para que crêssemos nele. Nele veio o amor de Deus ao pecador. Em sua presença as pessoas puderam ser pecadoras, e só assim encontraram ajuda. Perante ele acabou toda a aparência. A miséria do pecador e a misericórdia de Deus – eis a verdade do evangelho em Jesus Cristo. – Dietrich Bonhoeffer
A cruz de Cristo é um escândalo para o homem, pois ela nos desnuda de toda a aparência e destrói toda nossa soberba. A cruz salva o pecador por causa da obra de Cristo, e condena quem se justifica por suas obras piedosas.
Quarto Ato: A Ressurreição
Porque nele vivemos (zoe – vida – potência), nos movemos (kineo – colocar em movimento – desenvolvimento da vida) e existimos (esmen – ser/estar – plenitude do ser). Como disseram alguns dos poetas entre vocês. Todos nós somos na verdade seus filhos. Assim visto que somos filhos de Deus, não devemos supor que a essência divina seja semelhante ao ouro, à prata ou à pedra moldados pela técnica e imaginação do homem (…) Porque Ele julgará a terra habitada (…) por meio do homem a quem designou (…) ressuscitando este homem dentre os mortos. – At 17.28ss
Jesus não é apenas um Salvador que morreu pelo pecado, é um Rei que triunfou sobre o pecado. Ele não é meramente um homem que experimentou a morte, é um Deus em carne derrotando a morte (…) A ressurreição certamente tem implicações para renovação deste mundo material. – Darrin Patrick.
Nas palavras de George Ladd “o Jesus crucificado e sepultado emergiu do túmulo, para uma nova ordem de vida“. Este é a importância da ressurreição e a completude da obra salvadora. Cristo morreu para Deus e pelos pecadores e ressuscitou para que os pecadores pudessem viver para Deus. Se na cruz Ele cumpriu a exigência da Lei, na ressurreição reivindica a exigência do seu Senhorio sobre tudo e todos.
Na ressurreição de Cristo temos a evidência e a garantia da vida eterna. O testemunho real de uma nova ordem desenvolvida em nós pelo mesmo Espírito que o ressuscitou dos mortos (Ef 1.19-20)
Quinto Ato: Amor é Compromisso
Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós: permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permaneceis no meu amor, do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor – Jo 15.9-10
Não se pode ser discípulo sem compromisso, e se há hoje em dia muitos discípulos hesitantes, o motivo é que não fizeram ainda um compromisso decisivo. – Brennan Manning.
No pacto há um mútuo compromisso firmado, e isto envolve assumir responsabilidade para preservação da aliança. Para permanecer no amor é preciso ter uma postura de compromisso, ou seja, viver para Cristo e não mais para nós mesmos (Gl 2.20).
Na Cruz Cristo se entregou para nos comprar para o Pai. Na ressurreição Ele venceu a morte para reivindicar o seu senhorio sobre nós.
Sexto Ato: Compromisso é Atitude
Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos. Quem, pois, tiver bens do mundo e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar o seu coração, com estará nele o amor de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade – 1Jo 4.16-17
Quão fortes são os laços que nos unem? Nossa atitude para com os irmãos define nosso nível de compromisso para com Deus. Em uma sociedade de realizações pessoais, até que ponto estamos dispostos a viver para o próximo?
Sétimo Ato: A Ressurreição
Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar com o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos, uns aos outros com estas palavras. – 1Ts 4.16-18
O advento da ressurreição na segunda vinda de Cristo, marca a queda de Satanás e a ruína dos reinos deste mundo. Além de inaugurar o período em que Cristo, juntamente com sua Igreja, reinará sobre toda a terra. Haverá uma renovação total da criação. Nela não haverá mais morte, corrupção, deterioração, choro, onde todos construirão casas apra habitar nela, plantarão vinhas e usufruirão do trabalho de suas mãos. Um lugar de restauração completa das relações (Is 61)
Conclusão
Diante destes atos, só nos resta exclamarmos: “Maranata, ora vem Senhor Jesus!” E enquanto este dia se aproxima devemos nos manter sóbrios e vigilantes, mantendo nossas candeias acessas, encorajando-nos uns aos outros, mantendo um ambiente de oração, de ensino da doutrina dos apóstolos e de comunhão por causa da relação pactual.