Seguindo a série de estudos sobre a chamado a Jesus e a grande comissão, somos profundamente impactados pelo caráter compassivo e clemente de Deus como expressão do seu amor. O chamado a compaixão coloca em xeque-mete o que pensamos sobre amor, como em uma jogada fatal contra a retórica, deixa-nos sem possibilidade de fuga, defesa ou justificativa. O chamado a compaixão denuncia a irrelevância social da inoperosidade da fé. Como um desfibrilador que emite descarta elétrica para recuperar as batidas cardíacas do coração, o chamado a compaixão é o choque de realidade que nos desperta para o amor que percebe o outro, que sente, que se importa e intervém.
A dor do amor compassivo…
“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado.” 1 João 4:7.
Moisés declara, Deus é compassivo e clemente, cheio de compaixão e disposição em perdoar (Êxodo 34:6). Todos sabemos que o amor procede de Deus porque Deus é amor. Cremos que nos amou primeiro enviando o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Assim como sabemos do amor que Deus tem por nós, também sabemos assim como Deus de tal maneira nos amou, devemos também amar uns aos outros. Que maravilhosa verdade! Contudo, tenho a impressão que não temos consciência das implicações desse amor sacrificial. Não nos damos conta da relação intima que exite do amor com a dor. Deus amou de tal maneira que se identificou com o sofrimento humano, dispondo-se a dor em favor de todos. Ele aprendeu a obedecer por meio da dor que sofreu. Segundo o relato de Lucas sua dor o fez chorar lágrimas de sangue. Será que estamos prontos para o amor compassivo? Segundo Paulo Deus provou seu amor por nós, dando-nos o seu filho (Romanos 5:8). Amar implica sentir dor. Amor compassivo é a dor que nos move ao outro.
Nosso amigo Aldair Queiroz em uma das aulas ministradas na plataforma Farol fez uma das citações mais incríveis de C.S. Lewis em seu livro “Os Quatro Amores”: “O simples fato de se amar é uma vulnerabilidade. Ame alguma coisa e seu coração certamente ficará apertado e possivelmente partido. Se quiser ter certeza de que seu coração ficará intacto, não deve oferecê-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Use passatempos e pequenos luxos para envolvê-lo cuidadosamente; evite todas complicações; tranque-o de forma segura no caixão ou ataúde de seu egoísmo. No caixão —seguro, escuro, inerte, sem ar —ele mudará. Não será mais quebrado; se tornará inquebrável, impenetrável e irredimível. A alternativa para tragédia, ou pelo menos para o risco de tragédia, é a condenação. O único lugar fora do céu onde você pode ficar perfeitamente seguro de todos os problemas e perturbações do amor é o inferno“.
A desconexão da conectividade…
Um dos sintomas da falta de compaixão é “sabemos sobre mas não sentimos nada“. Porque isso acontece? Como é possível um mundo de pessoas continuamente conectadas estarem continuamente desligadas? Essa resposta talvez não esteja no google, mas na vida real. Na vida real, a verdadeira conexão acontece quando alguém se deixa ser afetado pela vida do outro, por suas ideias e emoções. A conexão é o entrelaçar das vidas, é chegar perto ao ponto de sentir o calor do outro. As verdadeiras conexões provocam um despertar dentro de nós. Ser afetado pelo outro implica tornar-se vulnerável, exige confiar e correr o risco de sofrer.
O domínio do hedonismo tem sequestrado uma geração no cativeiro do amor venal, ressignificando o amor compassivo, limitando-o a sentimentalismo superficial, virtual, impessoal e passivo, vencido pela supervalorização do bem-estar pessoal independente da condição do outro.
Chegue mais perto para sentir…
Compaixão é compadecer com, é sentir a dor comum, é identificação interventora. Porque o sofrimento alheio não nos faz sentir dor? Porque nem todos que olham veem, nem todos que veem sabem ler a realidade do outro, nem todos que leem sabem interpretar para planejar o que fazer. Talvez por isso, sejamos doutores em ações aleatórias pouco sustentáveis, sempre previsíveis na contramão de políticas públicas de reintegração, porque ações continuadas são comprometedoras e exigem mobilização.
É necessário que o quadro de sofrimento desperte nosso olhar, mas para lermos a realidade temos que chegar perto, a aproximação possibilita identificação, aqui a compaixão acontece, nesse momento temos que interpretar as reais necessidades para intervir de forma pontual visando sempre o desenvolvimento integral de todos, ao invés de perpetuarmos mais assistencialismo materialista, que por falta de hermenêutica cultural cristã, acredita que o problema social do próximo se limita a falta de coisas.
A compaixão é mobilizadora…
“Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor. E, então, se dirigiu a seus discípulos: A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara” Mateus 9:36.
Preste atenção! Jesus tem olhar humanizado, e não coisificado. Seu olhar está sempre voltado para pessoas e não coisas e mais novas coisas. A falta de compaixão pelo outro talvez seja reflexo da frieza das coisas que amamos. Como saber se temos coração compassivo? A compaixão é a identificação com a dor e o sofrimento do outro. E quem se identifica sabe dizer sem pressupostos de julgamento egoístas qual é exatamente a dor do outro. Jesus olhando para uma multidão de pessoas sabia identificar qual dor que estavam sentindo, ao ponto de especificar aos discípulos pessoas que estavam sofrendo aflição, a angústia da for física e psíquica, além de outros que estavam exaustos, sofrendo de esgotamento físico e mental, prostrados sem força e muitos desgarrados como ovelhas sem pastor, solitários desviados, abandonados sem direção e propósito. Somente a compaixão te dá condições de poder sentir exatamente o que o outro sente.
Então, Jesus tomado de compaixão volta-se para seus discípulos com uma fala mobilizadora, a extensão da terra é muito grande, a demanda das pessoas a serem tocadas é ainda maior, e o trabalhadores são poucos, as pessoas que estão vendo são poucas. Jesus pede ajuda! Seu pedido é para que se unam a Ele rogando ao Pai por mais trabalhadores, mais gente engajada, por uma comunidade compassiva. Olhando para o testemunho de Jesus, vemos o quanto a compaixão é mobilizadora, provoca engajamento e tira pessoas da tranquilidade pessoal para se mover em prol da dor e sofrimento do outro em atos de bondade e misericórdia.
O que você faz quando está sentido muita dor? Seja ela física, psíquica ou circunstancial, você se move. Porque a nossa dor não pode esperar e a do outro pode? Se eu sinto dor, tudo ao meu redor se move para que ela seja resolvida. Quando as pessoas que amo estão sentindo dor, movo todas as coisas ao meu redor para que sejam atendidas. A compaixão é mobilizadora, mas só nos mobiliza em favor do que amamos. Jesus compadeceu-se de todos, logo moveu-se a favor de todos. É desse tipo de atitude e ambiente que estamos falando.
O poder da compaixão…
Todos nós como discípulos somos imitadores de Jesus, queremos ser como Ele, fazer como ele, mas nem sempre pensamos isso de forma legislativa. O que isso significa? Tão importante quanto querer fazer como Jesus, é observar sobre que princípios se move, quais verdades fundamentais respaldam suas ações. Prestando atenção em sua vida e obra descobrimos que a compaixão é um princípio chave para uma vida de milagres.
Paulo fala sobre buscar os dons espirituais, porém nem sempre atentamos para o caminho de operação dos dons. “Segui o amor e procurai, com zelo, os dons espirituais” (1 Coríntios 14:1). Paulo está propondo seguir o caminho do amor, porque o caminho do amor nos levará sempre ao outro. Perseguindo o amor encontramos o próximo. Porque não temos fluência dos dons? Porque os dons são para a edificação do outro e não para afirmação ou reconhecimento pessoal. Experimente parar para prestar atenção nas pessoas, então verá o poder da compaixão. O amor compassivo comprometido em edificar o outro despertará palavras e virtudes em você.
Quando um dom espiritual atua, é como se Deus se movesse através de você para edificar o outro. Quando o poder da compaixão atua, é como se você, tomado de confiança, movesse Deus a favor da necessidade do outro. Seja qual maneira de atuar, todas elas sempre acontecerão no caminho do amor. O que é mais comum hoje? Pessoas pedindo poder e mais poder ou pessoas pedindo por amor compassivo, por mais compaixão?
Olhando para a narrativa de Mateus encontramos Jesus tomado de compaixão curando os enfermos de uma grande multidão. Você pode ter muitas experiências de cura a partir da compaixão (Mateus 14:14). Logo na sequência dos acontecimentos Jesus fazia muitos milagres junto ao mar da Galiléia, quando seus discípulos pediram para despedir a multidão. Então Jesus diz: “Tenho compaixão desta gente, porque há três dias que permanece comigo e não tem o que comer; e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça pelo caminho” (Mateus 15:32). Então acontece a segunda multiplicação dos pães.
Perceba o poder da compaixão mobilizando discípulos em favor da necessidade da multidão. Segundo a narrativa de Marcos, aproximou-se de Jesus um leproso rogando-lhe de joelhos para ser purificado, então: “Jesus, profundamente compadecido, estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: Quero, fica limpo! No mesmo instante, lhe desapareceu a lepra, e ficou limpo” (Marcos 1:41).
Conclusão
A verdade é que amar é estar vulnerável a dor que nos move ao outro. Ninguém se move sem compaixão. A compaixão é profunda como uma dor nas entranhas ou uma aguilhoada no estômago. Um anelo interior pelo bem do outro. Esse amor compassivo precisa ser preservado! Não permitamos que a crueldade humana endureça nosso coração, porque não podemos nos acostumar com o sofrimento alheio.
Ouçamos o chamado de volta a Deus, compassivo e clemente, que amou ao ponto de vir até nós identificando-se com a dor, disposto a perdoar. Que nosso coração seja compassivo ao ponto de amar como fomos amados. Amar primeiro, dando um passo em direção ao outro. Aproxime-se! Chegue perto, não fale nada, apenas sinta o outro. Como diz nosso amigo Kaká Menezes: “Quem vai em direção ao outro, pode ver de perto, quem vê sente e quem pode sentir faz”.
As pessoas que passam por sua vida saberão se suas ações são por descargo de consciência religiosa ou por compaixão. Porque o olhar compassivo tem um brilho especial, é um olhar lacrimejante, é o olhar que sabe e não o olhar frio que julga e subestima a dor. Que a compaixão nos dê um novo olhar para a velha cidade dos homens. Jesus ama Jerusalém e ao olhar para ela chorou. Sentiu sua dor ao ponto de dar sua vida para salva-la (Lucas 19:41). Tenhamos todos o mesmo sentimento e atitude que houve em Cristo Jesus (Filipenses 2:5). Lembremos que amor é compromisso e compromisso é atitude compassiva. Seguimos!
“Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto. Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao SENHOR, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal” Joel 2:13.
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Anderson Bomfim Pastor
Anderson Bomfim natural do Estado de São Paulo, casado com Andréa Bomfim, pais da Giovanna, Olívia e Pietra Bomfim. Fundadores da Missão Mobilização e Co-fundadores do CEIFAR-MG (Centro integrado de Formação e aperfeiçoamento para a Restauração). Desde 1999 tem procurado servir mobilizando e aperfeiçoando através de escolas modulares, conferencias e discipulado, cooperando junto com outras expressões ministeriais sobre a palavra de serem um, atuando em várias localidades com o mesmo propósito de Reino